Vivemos na era da hiperconectividade. Com alguns cliques, conseguimos interagir com amigos de infância, colegas de trabalho ou até desconhecidos do outro lado do mundo. Ainda assim, nunca se falou tanto sobre solidão. Como entender esse paradoxo a partir das lentes da psicanálise ?
Para a psicanálise, a solidão remonta aos nossos primeiros vínculos. Desde o nascimento, somos marcados por um desejo de encontrar no outro aquilo que nos falta — o cuidado, o acolhimento, o amparo. As primeiras experiências de frustração, inevitáveis na vida psíquica, deixam marcas profundas na forma como nos relacionamos. O desamparo original, conceito central em sua teoria, nos acompanha como uma sombra — e a solidão pode surgir sempre que esse desamparo se reatualiza. A solidão, nesse sentido, não é apenas a ausência de companhia, mas a experiência de uma incompletude estrutural. Algo que nenhuma rede social, por mais ativa que seja, pode de fato preencher.
Na vida contemporânea, essa falta se intensifica. Estamos cercados por interações digitais constantes — likes, mensagens rápidas, stories — que muitas vezes nos oferecem a ilusão de companhia, mas não o encontro genuíno. Quantas pessoas realmente nos escutam com presença? Quantas, de fato, nos enxergam?
Além disso, vivemos imersos em uma cultura que valoriza produtividade e performance. Em meio a rotinas aceleradas, sobra pouco tempo — e pouca energia — para cultivar vínculos mais profundos, inclusive conosco mesmos. Mostrar vulnerabilidade, em um mundo que cobra excelência o tempo todo, pode parecer arriscado. E é assim que, aos poucos, nos afastamos dos outros e de nós.
Mas a solidão, embora muitas vezes dolorosa, não precisa ser apenas um fardo. Freud e Lacan apontam que é justamente no contato com essa falta que temos a chance de nos reinventar. A solidão pode ser também um espaço fértil — um convite a olhar para dentro, a escutar o que deseja em nós, a encontrar outras formas de se conectar.
Se você tem sentido o peso da solidão, talvez seja a hora de saber mais como isso o afeta. Buscar um espaço de escuta em meio a rotina acelerada pode ser um caminho para compreender esse sentimento, elaborar suas causas e criar novas formas de relação consigo e com os outros.
Até mais,
Psicóloga e Psicanalista Andrea Torres